

A marca do feminino na gestão
Produzir um conteúdo sobre mulheres, sendo eu diretor da minha empresa, é um grande desafio. Primeiro pelo distanciamento natural entre minha perspectiva e suas lutas, mas também pelo respeito e admiração profunda que minha equipe e eu temos pelas mulheres, representadas por nossas funcionárias e nossas clientes.
No entanto, após 8 anos de operação e de observarmos que nossa linha histórica foi permeada pela ação de muitas mulheres, sinto-me um pouco mais apto em tentar fazê-lo. Elas não só confiaram em nosso trabalho, mas acreditaram em nossos pontos de vista e, acima de tudo, trouxeram a todos os nossos projetos um profundo comprometimento e senso de justiça. Para nós, mesmo não sendo uma empresa voltada exclusivamente ao público feminino, atender mulheres é a certeza de estar em projetos duradouros, marcados por força de vontade, inteligência e ponderação.
Muito já se lê diariamente sobre transformações que as mulheres vêm promovendo no mundo. Discutir direitos iguais [embora seja algo que ainda requer uma ação diária] hoje já é um tema consolidado frente às mudanças que as mulheres vêm promovendo na sociedade, na política e no mercado.
Uma prova disso é o papel que a mulher vem desempenhando no mundo dos negócios. Elas já são maioria quando o assunto são novas empresas. Hoje, 51,5% dos empreendimentos iniciados no Brasil são comandados por mulheres (dados do Global Entrepreneurship Monitor 2017). Já o IBGE mostra que elas também estão em ascensão dentro das empresas, ocupando 37% dos cargos de chefia (distante de uma realidade ideal, mas que representa um grande avanço).
O objetivo deste artigo, para além de uma homenagem, é consolidar uma reflexão antiga que temos sobre atitudes nativamente femininas. Essa percepção, além de engrandecer a relação com nossas clientes e o resultado que geramos, também nos ajuda, como empresa, a vencer desafios e oferecer não só serviços, mas uma experiência de excelência junto aos cliente.
Atitudes: um tesouro da gestão
Muitas vezes quando queremos incrementar resultados e tornar ações mais eficientes, recorremos a planos e estratégias. É muito comum [até pelo fato do mercado ainda ser preponderantemente masculino, que essas diretrizes sejam traçadas a despeito dos envolvidos, como se a variável “ser humano” fosse algo garantido.
Com nosso tempo de gestão e a experiência auferida ao longo dos anos, fomos percebendo algo diferente: as atitudes geralmente são o centro de um processo bem-sucedido. É como uma boa bússola, hoje podemos ainda não estar onde almejamos, mas se a bússola estiver calibrada e continuarmos caminhando, cedo ou tarde, chegaremos no destino.
Um exemplo ilustrativo disso: alguns projetos não dão resultado pontualmente no prazo definido no início. Isso porque a realidade é mais complexa, algum fornecedor pode atrasar ou o público demorar a se engajar. No entanto, uma atitude paciente e uma calibragem periódica, somadas a uma auscultação honesta do projeto vai, cedo ou tarde, colocá-lo no lugar certo. E essas atitudes podem ser tão sutis que talvez um gestor menos atento não as perceba.
Atitudes, uma vez assimiladas por um time, podem mudar o rumo das ações e ser decisivas para se atingir metas.
Vejamos alguns exemplos nativamente femininos, que têm se provado preciosas na relação com nossas clientes:
Pensar a longo prazo
É normal ter alguma ansiedade ao se contratar comunicação. Às vezes sua empresa está numa fase difícil e precisa de uma resposta rápida em algum segmento. Entretanto, se você quer que sua marca floresça de maneira mais consistente, pensar a longo prazo é fundamental. As mulheres estão acostumadas a trabalhar assim, seja pela própria biologia da maternidade, seja pela construção cultural em torno delas. Elas sabem olhar para algo que querem ver solidificado lá na frente, ao mesmo tempo em que mapeiam “pequenas vitórias” que precisam ter ao longo do caminho. Isso não só lhes dá fôlego, mas também ajuda a organizar a mente e tomar decisões de gestão mais equilibradas.
Confiar
Claro que, no mundo dos negócios, é importante ter “um olho na missa e outro no padre”. Isso garante o momento certo das tomadas de decisões e das calibragens. Entretanto, muitas vezes uma atitude precipitada nesse setor pode fazer um gestor micro-gerenciar seus contratados até minar a produtividade. É muito comum as mulheres confiarem em quem contratam. Elas precisam ter alguém que lhes alivie a carga de um conteúdo que não dominem, que possa facilitar uma dimensão externa do trabalho de maneira transparente, cultivar uma parceria. Dessa forma, elas confiam não só no fornecedor ou na agência, como também no processo. E não é uma confiança cega. Nossas clientes geralmente são muito exigentes, querem detalhes estruturais dos planos e seus cronogramas de execução. Ou seja, é confiar de maneira inteligente, com um olho no processo e outro no resultado.
Empatia e diálogo
É sabido que as mulheres sabem se comunicar muito bem. Essa habilidade, embora evolutiva, tem muito respaldo na inteligência emocional delas. Faz parte do confiar. Para confiar é imprescindível conhecer e, para conhecer, só comunicando. Assim, elas estão abertas ao diálogo. Mulheres não ficam apenas caladas esperando a sua vez de falar. Elas ouvem genuinamente, são capazes de se projetar no lugar do outro e entender perspectivas que lhes estão sendo apresentadas.
Assim, as reuniões de gestão vão ficando cada vez mais ricas, pois elas vão aprendendo e se desenvolvendo ao longo do projeto. Ainda, essa abertura ao diálogo transforma as interações em oportunidades de troca. Tanto por diariamente aprendermos mais sobre seu negócio, de maneira aberta e generosa, quanto pelo espaço seguro que é criado na relação, permitindo o aporte de mais conhecimento à gestão. Todo mundo ganha.
Cultivar a Relação
Isso é um reflexo de se pensar a longo prazo. É muito mais comum vermos mulheres pensarem relacionamento como algo evolutivo, trazendo pontos importantes da relação para a mesa. É necessário ainda lembrar que, se alguém está discutindo relacionamento conosco, esse alguém quer que o relacionamento prospere, e isso as mulheres sabem fazer muito bem. É comum na gestão de nossos projetos as nossas clientes tirarem dúvidas, expressarem suas insuficiências em assuntos que não dominam, mas também nos explicarem como preferem ser tratadas, como preferem que os projetos sejam conduzidos. Assim como é comum também que nos critiquem quando necessário e muito frequentemente nos elogiem quando estamos no caminho certo. Você pode pensar, “mas eu estou pagando, é sua obrigação entregar o melhor projeto possível” e, sim, vou concordar que isso é verdade. Mas há uma mágica inevitável em projetos em que há respeito, colaboração e reconhecimento mútuo. Essa mágica é para além do dinheiro e, se você quer ver isso acontecer, aposte na relação.
Nutrir parceiros e funcionários
Outra consequência natural é apostar na relação. Ficamos sempre muito surpresos ao ver as gestoras com quem trabalhamos se relacionarem com funcionários e parceiros. Elas os entendem não como acessórios, mas como membros estruturais de sua cadeia produtiva. Isso se reflete em um respeito e nutrição dessas pessoas. Tenho vários fornecedores que elogiam nossas clientes, que reconhecem que, com elas, o trabalho é diferenciado, gera resultados melhores. Vejo claramente que eles percebem essas atitudes e compreendem o sucesso dessas clientes como causa pessoal.
Não dar nada por garantido
Finalmente, mas não menos importante, as mulheres entendem que todo desafio merece atenção minuciosa, cuidado frequente, observação e diligência. É realmente impactante ver a velocidade e conscienciosidade com que elas respondem em seus projetos.
Comunicação é, fundamentalmente, informação. E informação precisa ser trabalhada com capricho e profundidade. É sempre impressionante ver nossas clientes operando em nossas plataformas de gestão, trazendo informação de qualidade, na hora certa, respondendo de maneira atenta, trazendo suas perspectivas para nossas ações. Posso dizer que isso afeta decisivamente o resultado de seus esforços. Mais do que isso, como somos frequentemente recontratados por elas, constato que, a cada projeto, estão mais eficientes, mais exigentes e, como consequência disso tudo, em constante evolução em suas carreiras.
Conclusão
Obviamente que essas dimensões que levantamos não pertencem apenas às mulheres. Também temos a oportunidade de trabalhar com grandes gestores em quem observamos características muito parecidas. O que nos chama atenção na verdade é a frequência com que nos deparamos com essas atitudes entre nossas clientes, isso sim é surpreendente e nos faz crer que com mais desses ingredientes no mercado, há um caminho certeiro para mais prosperidade e mais resultados nos negócios.
E você, o que acha? Escreva para nós. Se tiver mais características que identifica como femininas, ou que deveriam estar mais presentes na gestão de negócios e de comunicação, seria um prazer ouvir sua opinião.
ilustração: Ana Terra